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Lula sinaliza apoio à ofensiva da China para fortalecer o bloco dos Brics e desafiar os EUA

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Foto: reprodução

Numa sinalização de um maior alinhamento com a China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou sua visita ao país asiático para mandar um recado para os Estados Unidos. Em Xangai, o petista fez um discurso contra o dólar e defendeu o fortalecimento do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O movimento do petista ocorre em meio a um esforço da China para dar um caráter político ao bloco, originalmente econômico, dos Brics. O objetivo de Pequim é fazer frente à hegemonia dos Estados Unidos e de outros blocos como o G-7, o grupo das sete maiores economias do mundo.

A ideia de Brics foi criada em 2001 pelo economista do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, que agrupou inicialmente Brasil, Rússia, Índia e China em um acrônimo para designar economias em desenvolvimento com potencial para liderar a economia global no meio do século 21. Os países adotaram a ideia e fizeram a primeira reunião do bloco econômico em 2009. A África do Sul foi incorporada no ano seguinte.

Mas, quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022, a China, que estava na presidência rotativa dos Brics, passou a manobrar para aumentá-lo e utilizá-lo para confrontar politicamente seu maior rival, os Estados Unidos. Pequim vem então usando o sentimento anti-americano para aproximar países como o Irã e o Uruguai. Outras nações começaram a se interessar pelo grupo por entender que os EUA não teriam mais interesse em protegê-los, como no caso da Arábia Saudita.

Nesse contexto, Lula abraçou uma das principais bandeiras da China e da Rússia: tentar enfraquecer a hegemonia do dólar, usado como a principal moeda de trocas globais.

“Quem decidiu que era o dólar a moeda? Depois que desapareceu o ouro como paridade? Por que não foi o iene? Por que não foi o real? Por que não foi o peso? Porque as nossas moedas eram fracas, as nossas moedas não têm valor em outros países. Então, se escolheu uma moeda sem levar em conta a necessidade que nós precisamos ter uma moeda que transforme os países em uma situação um pouco mais tranquila”, disse Lula.

No último mês, o Banco Central brasileiro anunciou que havia fechado um acordo com chinês para conversão direta das moedas dos dois países em operações comerciais. Até então, as instituições precisavam fazer as operações com a intermediação do dólar americano.

Mas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad negou que os ataques de Lula ao dólar tenham fundamentação geopolítica. Ele afirmou que, do ponto de vista econômico, em paralelo ao novo sistema, as transações em dólar vão continuar acontecendo.

O dólar se consolidou como a moeda de comércio internacional após a Segunda Guerra. Na década de 1970, ele deixou de ser lastreado pelo ouro, o que rendeu a Washington um poder praticamente hegemônico sobre a economia mundial.

Além da declaração contra a moeda norte-americana, Lula visitou um centro de pesquisa da gigante de tecnologia Huawei, considerada pelos EUA um risco à segurança e um braço do governo chinês. Contudo, a Huawei afirma ser uma empresa privada que acabou indo parar no centro das disputas sino-americanas.

As declarações de Lula seguem um padrão diplomático iniciado em seu primeiro governo – época em que o mundo estava menos polarizado. O presidente brasileiro tenta dialogar com potências antagônicas e até com países autocráticos, como o Irã e a Venezuela. Para isso, adapta seu discurso de acordo com o país que visita.

Para Manuel Furriela, professor de Direito Internacional da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), o movimento de Lula, por enquanto, ainda não tem peso para gerar um desgaste com o governo norte-americano.

“Os Estados Unidos provavelmente farão algumas críticas a essas declarações do Lula, mas eu não acredito que isso, neste momento, vai levar a um desgaste das relações entre Brasil e Estados Unidos ou algum problema mais sério. Pelo menos no momento atual”, avalia Furriela. (Gazeta do Povo)

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