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Em Petrolina, oposição resgata ex-prefeitos para enfrentar aliança de Simão, Coelhos e PSB

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Foto: reprodução

Nas margens do rio São Francisco, que divide os estados de Pernambuco e Bahia, o município de Petrolina abriga agora a 3ª maior população do estado pernambucano, com 387 mil habitantes de acordo com o Censo 2022 do IBGE. Território comandado há mais de um século pela família Coelho, parece difícil que o cenário mude este ano. Mas a oposição liderada por Júlio Lóssio (SD) e pelo PT acredita que é possível.

O atual prefeito Simão Durando (UB) era vice, mas sentou na cadeira após Miguel Coelho (UB) deixar o cargo para disputar, sem sucesso, o Governo de Pernambuco em 2022. O novo gestor tem desfrutado de um índice de aprovação similar a Coelho. Pesquisa do Instituto Opinião, em novembro de 2023, apontava Durando com 74% de aprovação junto à população.

Único vereador do PT na cidade, o professor Gilmar Santos diz que a pesquisa não reflete a realidade. “Ele tem muita desaprovação, há muita insatisfação popular. A pesquisa não deve ter sido feita nos bairros periféricos”, diz ele, contestando a metodologia. Segundo o vereador, os serviços de saúde e assistência social, além dos frequentes alagamentos em períodos de chuva, são os principais motivos de críticas e protestos nas periferias de Petrolina.

O “fator Coelho” não pode ser ignorado na equação. A família geriu a cidade pela primeira vez na virada dos anos 1800 para os 1900. Nestes 120 anos Petrolina teve 14 gestões em que um Coelho foi prefeito ou vice. Veja um resumo deste histórico aqui. Simão é apoiado pelos Coelhos, mas Gilmar Santos traz outro olhar. “Não ter o sobrenome ‘Coelho’ pesa contra ele no imaginário da população”, opina o vereador.

Durante o governo Bolsonaro a cidade de Petrolina foi bastante beneficiada com emendas parlamentares, tendo Fernando Bezerra Coelho (pai do então prefeito Miguel) como líder do governo no Senado e um indicado da família comandando a Codevasf, que fez até calçamento de rua com verba federal em Petrolina. Os recursos daquelas emendas ainda se refletem na gestão atual. “Foram mais de R$500 milhões injetados no município via Codevasf”, lembra o vereador petista, pontuando ainda que o atual prefeito perdeu esses canais com a vitória de Lula.

Os Coelhos ainda contam com o deputado federal Fernando Filho (UB) e o estadual Antônio Coelho (UB), licenciado para assumir uma secretaria na Prefeitura do Recife.

Fazer oposição neste cenário não é simples. “O poder dominante se apropria de todos os meios para manter esse domínio, seja com articulações políticas de nível nacional, estadual, seja controlando os recursos institucionais”, diz Gilmar Santos. “É uma luta de Davi contra Golias”, resume ele. Entre os 23 vereadores de Petrolina, apenas 7 fazem oposição. Além do petista, o vereador Gaturiano Cigano (PV) também integra a Federação Brasil da Esperança. O PCdoB não tem vereador, assim como PDT e PSOL.

Gilmar chama de “desafiador” fazer a luta política junto às forças populares no município. “Focamos na luta das periferias, onde está a classe trabalhadora, num município com 72% da população negra. Mas encontramos organizações populares num cenário de muita fragilidade”, diz ele. “Infelizmente existe a cooptação dessas organizações e lideranças, sejam comunitárias ou sindicais, pelas oligarquias”, lamenta. “Fica difícil ter uma representação fortalecida pelas forças populares”, completa o vereador. Após tentativa malsucedida em 2012, Gilmar conquistou seu primeiro mandato em 2016 (1.622 votos) e foi reeleito em 2020 (1.735 votos).

E a disputa pela vereança este ano pode ser ainda mais complicada. Se em 2020 o PT lançou mais de 30 candidatos e somou apenas 9.586 votos, elegendo apenas um, este ano a legislação eleitoral limita a chapa a 24 candidaturas, que o PT terá que dividir com o PV e o PCdoB, com quem forma a Federação Brasil da Esperança. “Teremos 12 candidatos do PT. Esperamos garantir a reeleição do nosso mandato e eleger pelo menos mais um do PT”, diz Gilmar. “Esperamos que nossa mobilização resulte nisso”.

Gaturiano Cigano (PV) foi o 2º mais votado em 2020 e busca ser o 1º lugar do município este ano. Ao que tudo indica, será o 1º da federação. “Os votos dele podem ajudar a gente”, diz Gilmar, pontuando que, do outro lado, o PCdoB está fragilizado no município.

Pesquisa eleitoral

Ainda assim as pesquisas eleitorais sugerem 2º turno na eleição de outubro, apesar da vantagem do prefeito. Levantamento do Instituto Sigma Álgebra, em dezembro de 2023, apontava Simão Durando (UB) com 39% das intenções de votos, seguido dos ex-prefeitos Julio Lóssio (Solidariedade) com 15% e Odacy Amorim (PT) com 14%. A vereadora Lucinha Mota (PSDB) aparecia com 9% e o deputado federal Lucas Ramos (PSB) tinha 4%. Outros 8% escolheram nenhum (voto branco/nulo) e 11% não sabiam em quem votar.

Dos nomes acima, apenas os três primeiros têm candidaturas confirmadas. A vereadora Lucinha Mota, que em 2020 teve 2.656 votos pelo PSOL, mas assumiu o mandato em 2023 filiada ao PSDB, tentará reeleição. Já Lucas Ramos não será candidato, já que o PSB se reaproximou da família Coelho e apoiará a reeleição de Simão Durando.

O médico Júlio Lóssio (SD) desbancou os Coelhos na disputa pela prefeitura em 2008, reeleito em 2012 (mas com Guilherme Coelho na vice). Não fez sucessor em 2016 e, em 2018, foi derrotado no salto pelo Governo do Estado, obtendo 176 mil votos (4,7%), ficando em 4º lugar. Em 2022, associado a Marília Arraes no Solidariedade, Lóssio ficou “escondido” como suplente de senador na candidatura de André de Paula (PSD), que ficou em 3º lugar.

Odacy Amorim (PT) também foi prefeito, mas só quando se associou aos Coelhos. Ele foi eleito vice (pelo PPS) de Fernando Bezerra Coelho em 2004 e assumiu a prefeitura dois anos depois, quando FBC abandonou o cargo para presidir o Polo Industrial de Suape. Odacy migrou para o PSB, mas não tentou reeleição. O PSB lançou Gonzaga Patriota, derrotado por Julio Lóssio.

Odacy foi eleito (2010) e reeleito (2014) deputado estadual. Em 2018 tentou vaga na Câmara Federal e acabou derrotado, mas fez a esposa Dulcicleide deputada estadual. Em 2022 o casal inverteu as vagas e acabaram ambos derrotados, com menos de 25 mil votos cada. Ele disputou a prefeitura como cabeça de chapa em 2012 (29,5 mil votos, 3ºlugar, com 20,5%), em 2016 (39,6 mil votos, 25,4%, 2º lugar) e em 2020 (15,3 mil votos, 9,6%, 3º lugar).

O PT confirmou a candidatura própria, mas ainda não o seu nome. Pesquisas internas do partido colocaram Odacy com 12%, Gilmar Santos com 4% e Julianeli Tolentino, ex-reitor da Univasf, com 1% nas pesquisas. “Dentro do PT estamos dialogando sobre como a candidatura de Odacy vai se apresentar. É uma liderança que tem contribuições importantes na região, mas saiu com um certo desgaste na última eleição”, diz Gilmar Santos, confirmando Amorim como provável nome.

A estratégia envolve destacar os feitos das gestões federais do PT no município. “Hoje temos em Petrolina mais de 15 mil unidades do Minha Casa Minha Vida. Sem isso sofreríamos uma favelização absurda”, exemplifica Gilmar. “Sem os investimentos e políticas públicas do PT, estaríamos numa situação de tragégia social”, resume ele. E completa. “O projeto de governo precisa dar conta dos desafios do município, mas também ser apresentado de forma competente pelo candidato”.

Com 143 mil eleitores, o município tem 2º turno. A cidade também é um polo de mídia, com canais próprios de TV e rádio e, portanto, tem propaganda eleitoral gratuita nesses canais.

Conhecido polo de fruticultura irrigada no Nordeste, aproximadamente 25% da população economicamente ativa do município trabalha na agricultura e pecuária, se destacando principalmente a produção de uvas e mangas. Já a indústria garante o emprego de menos de 15% da população, principalmente as indústrias de alimentos e da construção civil. O maior setor é o de comércio e serviços, que garante aproximadamente 55% dos empregos e 60% do PIB local. (Brasil de Fato)

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