
Por Estadão
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, demitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tarde desta terça-feira, 25, cometeu pelo menos cinco erros que tornaram sua permanência na pasta insustentável. De polêmicas com a bancada evangélica à crise da falta de vacinas; do avanço da dengue no País à inabilidade política, alvo de tantas queixas de deputados e senadores. A cada degrau que escalou na crise, ficou mais difícil sua sustentação.
A ex-presidente da Fiocruz foi alvo de “fogo amigo e inimigo” desde os primeiros meses da gestão Lula. Nísia só não foi demitida antes porque o presidente Lula bateu o pé para não ceder à pressão do Centrão, que sempre teve apetite pelo Ministério da Saúde. E, mesmo depois de decidir entregar a pasta a Alexandre Padilha (PT), padrinho de Nísia no cargo, o presidente esbarrou na dificuldade para encontrar um substituto para o petista na Secretaria de Relações Institucionais (SRI).
Lula chegou a acionar o marqueteiro, hoje ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, para tentar socorrer Nísia e melhorar a imagem dela e da pasta. Não teve jeito. Agora, com a avaliação cada vez pior do governo, derrubar Nísia passou a ser uma das apostas para tentar dar novo fôlego em pautas populares na Saúde. Um exemplo foi o pronunciamento de Lula nesta semana.
Confira os cinco degraus da escalada da crise no Ministério da Saúde:
Uma das primeiras crises no ministério foi uma apresentação com dança erótica realizada em evento da pasta que colocou a ministra no alvo da oposição e levou à demissão do então diretor de Prevenção e Promoção da Saúde, Andrey Roosewelt Chagas Lemos. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais em outubro de 2023, durante o 1º Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde no Brasil, uma pessoa fazia uma coreografia erótica no centro do palco, enquanto os participantes aplaudiam da plateia. Após a polêmica, a pasta afirmou que a apresentação “surpreendeu pela coreografia inapropriada”.
Portaria do aborto
No começo de 2024, a gestão de Nísia abriu uma crise com os evangélicos ao publicar uma nota técnica para estabelecer que não deveria haver um limite temporal para a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. Após uma ofensiva da bancada evangélica no Congresso, o ministério suspendeu a medida e alegou o texto não havia passado por consultoria jurídica e nem por todas as esferas necessárias da pasta.
Falta de vacinas
A gestão também foi criticada por falta de vacinas no País. No fim de 2024, por exemplo, pelo menos 11 Estados e o Distrito Federal registravam falta de algum tipo de imunizante, de acordo com levantamento feito pelo Estadão entre os dias 11 e 18 de novembro. As secretarias estaduais de saúde relataram escassez de diferentes vacinas, incluindo as da covid-19. Em nota, o ministério negou falta generalizada dos produtos, mas admitiu que “enfrentou desafios momentâneos na distribuição de algumas vacinas devido a problemas com fornecedores e produção limitada global”.
Dengue
O aumento dos casos de dengue no País também afetou a imagem da ministra. Em janeiro deste ano, Nísia disse que a pasta mantinha conversas constantes com o Instituto Butantan para viabilizar a distribuição do imunizante contra dengue desenvolvido na instituição, mas ressaltou que a produção atual ainda não é capaz de suportar uma campanha ampla. Nesta terça-feira, 25, ela anunciou a primeira vacina 100% brasileira contra a doença.
Articulação política
Uma reclamação frequente sobre a ministra, que partia do Congresso, era a falta de disposição para receber parlamentares. A liberação de emendas da pasta causou ruído com o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que rompeu relações com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, padrinho de Nísia. Até mesmo aliados diziam que faltava traquejo à ministra. Muitos a aconselhavam a promover as ações do governo em eventos, mas ela resistia a fazer propaganda política da gestão. A Saúde sempre havia sido uma das principais vitrines dos governos do PT.