
Por Cidinha Medrado para o blog
No programa Debate Geral do último sábado, 22 de fevereiro, conduzido por Roberto Gonçalves, a discussão girou em torno dos desafios e perspectivas do Polo Gesseiro do Araripe. Participaram do programa os especialistas Lincoln Silva, engenheiro químico e de segurança do trabalho, e Rubenir Cunha, engenheiro florestal e doutor em Ciências Florestais, ambos com vasta experiência no setor.
O Polo Gesseiro do Araripe, localizado no extremo oeste de Pernambuco, é conhecido por abrigar a maior jazida de gipsita do Brasil, matéria-prima essencial para a produção de gesso. Contudo, o setor enfrenta uma série de dificuldades, como a falta de infraestrutura energética, problemas logísticos e a informalidade que ainda persiste na cadeia produtiva.
Durante a conversa, os convidados destacaram que, embora a região continue sendo um dos maiores produtores de gesso do país, a crescente competição de outros polos produtores, como o do Maranhão, tem representado uma ameaça para a manutenção de sua liderança no mercado. A proximidade de novas áreas produtoras aos grandes centros consumidores e a infraestrutura mais avançada, como portos e ferrovias, colocam o Polo Araripe em desvantagem.
No entanto, as perspectivas para o setor não são totalmente negativas. A possível chegada do gás natural à região e o aumento da demanda do agronegócio pelo produto representam oportunidades para o fortalecimento da produção local. Lincoln Silva, idealizador da Exacto Gesso, mencionou que o gás natural, embora eficiente, é mais caro em comparação com a biomassa florestal, como a lenha de algaroba, que tem sido utilizada nas fábricas de gesso da região. Segundo ele, a biomassa oferece uma alternativa mais econômica e sustentável, embora o setor ainda enfrente desafios com o manejo adequado das florestas nativas e o desmatamento ilegal. “O uso de gás natural para substituir a biomassa na produção de gesso pode ser uma solução interessante, mas o custo desse gás e a adaptação das fábricas para esse novo combustível podem inviabilizar economicamente o Polo. O gás é uma energia mais estável, mas não é mais barato que a biomassa local. Sou a favor do uso de biomassa renovável, como a lenha de algaroba e de manejo florestal, para garantir a sustentabilidade ambiental e também gerar emprego e renda para o pequeno agricultor. O problema é que o governo de Pernambuco ainda não implementou uma política eficiente para incentivar o uso sustentável dessas fontes de energia.”
Rubenir Cunha, por sua vez, defendeu a continuidade do uso de biomassa renovável, alertando para os riscos ambientais que podem advir da substituição dessa fonte por combustíveis fósseis, como o gás natural. Ele destacou que o Polo Gesseiro poderia se beneficiar de um plano de manejo florestal que promovesse o uso sustentável da catinga, bioma local, garantindo não apenas a preservação ambiental, mas também a geração de emprego e renda para os pequenos produtores da região. “O Polo Gesseiro do Araripe já foi responsável por 95% da produção de gesso no Brasil, mas esse cenário está mudando com o crescimento de outras regiões produtoras, como o Polo do Maranhão. Para não ficarmos para trás, é preciso um olhar mais atento das autoridades locais, com políticas públicas que incentivem o setor. Uma falsa informação circulou recentemente, dizendo que a produção de uma tonelada de gesso exige uma tonelada de lenha. Isso não é verdade. Com o uso adequado de biomassa, a relação é bem mais eficiente, e a catinga não estaria completamente dizimada, como sugerem algumas notícias.”
A questão da fiscalização também foi levantada, com os participantes concordando que a atuação do Ministério Público, embora menos frequente hoje em dia, continua essencial para garantir que as empresas do setor sigam as normas ambientais e de segurança do trabalho.
A produção de gesso, apesar das dificuldades, continua sendo uma atividade lucrativa, e a expectativa é que, com as melhorias nas infraestruturas e o fortalecimento das políticas públicas, o Polo Gesseiro do Araripe recupere parte de sua competitividade no mercado nacional e internacional.
O Debate Geral é transmitido todos os sábados, das 9h às 10h, pela Rádio Arari FM 90,3, com debates sobre temas relevantes para a região. Assista o programa na íntegra: