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A semana santa, o peixe e o Semiárido

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Foto: ilustração

Por Geraldo Eugênio* / Jornal do Sertão

Considerando-se que uma fração significativa da população nordestina é católica e, durante a Páscoa, apesar da liberalização dos costumes, ainda se mantém a tradição quanto ao consumo de peixes e mesmo que não seja de natureza religiosa há um histórico culinário em que o bacalhau ganhou a corrida, seguindo-se da dos peixes de água doce ou salgada, não há como nos dias que antecedem à Sexta-feira da Paixão de Cristo, não associar aos pratos servidos durante esta semana. 

Cada região com suas especialidades. A região metropolitana e zona da mata destaca o consumo do bredo, uma planta utilizada como hortaliça, refogada no leite de coco nas moquecas e cozidos de peixe. Na minha família, o  feijão ao coco com lascas de bacalhau é a marca registrada. Somente em casos de total impossibilidade deixo de provar este prato com a família. Na Região Sudeste ,como no estado do Espírito Santo, a torta capixaba, cujos ingredientes principais são o bacalhau e o palmito, representa o segundo prato mais destacado da culinária. Saí por aí afora encontrando-se dezenas de  recomendações específicas para a Semana.

A tilápia no cardápio universal

Vale destacar o valor nutritivo da alimentação à base de pescados, sejam frutos do mar ou espécies que habitam os açudes, rios e riachos que são criadas no interior do país. Neste quesito é interessante ver a oferta de peixes típicos da região nas feiras de final de semana. Também vale notar que comunidades que vivem às margens de açudes ou lagoas  têm o suprimento de proteína basicamente baseado no consumo de peixes capturados no anzol ou em redes artesanais, mas eficientes, tecidas por gerações.

Neste consumo interiorano destaca-se o uso intensivo da rainha Tilápia, um conjunto de espécies de origem africana que a partir do cultivo  intensivo se tornou uma iguaria não apenas entre os mais humildes mas em parte dos restaurantes de todo o mundo. Aí incluindo-se os países ricos.

No sertão pernambucano, em quase todas as cidades, se encontram bares e restaurantes cuja especialidade é a tilápia frita ou na brasa. Juntamente com o baião de dois e um vinagrete, tornou-se o prato mais consumido à base de pescado. Sem contar o peixe frito nas rodadas de cerveja ou de uma boa cachaça.

Sem produção de alevinos não há produção de peixe

Durante algum tempo, durante o início do ano, os governos estaduais e alguns municipais investiram fortemente em programas de extensão aquícola, distribuindo alevinos entre os açudes de maior ou menor porte visando o apoio nutricional e financeiro às famílias que ali viviam. Ano após anos, o ponteiro da história tem rodado em sentido inverso e, além de haver sido extinto os programas de peixamentos, as bases físicas que serviam como suporte à produção de alevinos foram literalmente dizimadas, em várias instituições públicas. Parece algo contraditório, mas, infelizmente, é o que ocorreu, inclusive a uma base de piscicultura outrora localizada na Estação do IPA de Serra Talhada, da qual só restam a estrutura física em comprometedor estado de conservação.

Uma política de baixo custo e resultados relevantes

Dentre os grandes desafios para um Ministério da Pesca do Brasil e as instituições estaduais que são responsáveis pelo setor, destaca-se a produção aquícola em águas interioranas. Em primeiro lugar apoiando o empresário envolvido com o setor, seguindo-se de planejar um programa que consiste em transformar a produção tradicional em um componente de negócio, geração de renda, emprego e, consequentemente, de prosperidade.

Esta seria uma iniciativa a ser construída a partir do governo federal, envolvendo os governos estaduais e municipais e as associações de produção de pescado que existem no semiárido brasileiro. Seria, inclusive, uma oportunidade de ver as universidades engajadas, que têm cursos relacionados ao tema, as instituições de pesquisa, os agentes de fomento e secretarias municipais de agricultura, pesca e meio ambiente.

Levando-se em consideração o conhecimento adquirido ao longo de três ou quatro décadas, os poços, açudes e infraestrutura existentes, a mão-de-obra qualificada disponível,  se constituiria em uma iniciativa de baixo custo e de alto impacto social e financeiro. Não sei a que pés se encontra esta política de governo, uma vez que quase nada se ver divulgado sobre a ação efetiva no Semiárido.

Sempre há tempo para iniciar algo positivo, entretanto o tempo é uma máquina de triturar ideias e aspirações e, cabe ao gestor aproveitar da melhor maneira o primeiro momento de seu mandato para consolidar as ideias que apresentou como proposta durante as campanhas. A piscicultura e, em destaque a interiorana, ainda estão à espera de um programa de caráter regional.

*Professor Titular da UFRPE-UAST

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