
O desempenho da estatal é a prova de que o PT não aprende
Editorial Estadão
Os Correios encerraram o ano de 2024 com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, um valor quatro vezes maior que o registrado no ano anterior, de R$ 597 milhões. A última vez em que a empresa havia tido um resultado tão ruim foi em 2016, quando o rombo foi de cerca de R$ 1,5 bilhão. Embora trágico, o prejuízo não surpreende.
Entre janeiro e setembro do ano passado, o déficit da empresa já alcançava R$ 2,1 bilhões, e não havia expectativa de reversão no curto prazo. À época, o governo alegou que os Correios haviam acabado de fazer investimentos em tecnologia, renovação da frota e infraestrutura, parte de um plano para retirar a empresa da “bacia das almas” e torná-la lucrativa.
Agora, que não há mais como dourar a pílula, a direção dos Correios teve de mudar de estratégia e anunciou um plano para cortar R$ 1,5 bilhão em gastos. Entre as propostas estão a prorrogação de um programa de demissões voluntárias, suspensão temporária de férias, redução da jornada de trabalho associada à diminuição dos salários e corte de cargos comissionados. Os Correios pretendem também convocar todos os empregados a retomarem o trabalho presencial, além de adotar novos formatos de plano de saúde mais baratos.
Não por acaso, o plano anunciado recentemente dedica especial atenção às despesas com pessoal, há anos o ponto mais sensível para as finanças dos Correios, que contam com cerca de 84 mil funcionários. Enquanto a receita total da empresa caiu 0,89% no ano passado, os gastos aumentaram 7,91%.
Do total de agências dos Correios, apenas 15% são superavitárias. E, apesar da capilaridade e da presença em praticamente todos os municípios do País, parece óbvio que a empresa não tem conseguido aproveitar o avanço do comércio eletrônico em seu favor.
Enquanto o e-commerce no Brasil cresceu 10,5% no ano passado, em relação a 2023, a receita líquida com vendas e serviços dos Correios, incluindo encomendas, recuou 1,74%. Já a receita com vendas e serviços internacionais diminuiu 11,98%, culpa, segundo a empresa, da “taxa das blusinhas”, por meio da qual o governo passou a taxar compras internacionais de até US$ 50.
No Senado, a oposição pretende explorar os maus resultados dos Correios destrinchando patrocínios, contratos e eventuais irregularidades que possam causar algum barulho. Bem se sabe que os problemas dos Correios são de outra natureza, como evidenciam o balanço e a direção da empresa por meio do plano de reestruturação apresentado na semana passada.
Mas fica difícil acreditar no sucesso do plano quando se sabe que os Correios realizaram no final do ano passado um concurso público para contratar 3,5 mil empregados. Ainda que se argumente que é preciso substituir funcionários prestes a se aposentar, não parece ser esta a prioridade de uma empresa que acaba de registrar um prejuízo bilionário.
Tendo em vista o horror que tem à privatização de estatais, o mínimo que o governo Lula da Silva deveria fazer era se esforçar para que as empresas públicas ao menos gerassem resultados suficientes para sustentá-las. Mas o desempenho dos Correios é prova de que o PT não aprende.