
O Estado é o quinto do País com mais pessoas vivendo em áreas de risco de desastres naturais
Jefferson desceu a rua na chuva, segurando uma sombrinha e um galo de campina dentro de uma gaiola. Tinha acabado de jantar com a mãe e decidiu voltar para dormir na sua casa, que ficava ali perto. A lembrança melancólica de Jefferson sob o dilúvio foi a última imagem que Dona Corina guardou do filho. Na madrugada daquele sábado, 28 de maio de 2022, uma barreira desabou sobre a casa, enquanto ele dormia.
A história do serralheiro de 38 anos marcou a tragédia de Jardim Monte Verde, junto com a de outras 47 vítimas. Ele foi o primeiro a desaparecer e o último a ser encontrado, cinco dias depois, numa imensidão de barro e escombros.
Localizado no município de Jaboatão dos Guararapes, na divisa com Recife, Jardim Monte Verde sentiu, com intensidade, os estragos do maior desastre natural da história de Pernambuco. Em 2022, no curto intervalo entre os dias 25 e 30 de maio, choveu xxx mm, deixando 133 mortos e mais de 130 mil pessoas impactadas em todo o Estado.
As fortes chuvas em Pernambuco acenderam o alerta sobre a vulnerabilidade das populações que vivem em áreas de risco de deslizamento de barreiras e de enchentes. Agora, a tragédia no Rio Grande do Sul, com consequências desastrosas, volta a advertir sobre a importância da prevenção e da convivência com as mudanças climáticas.

PERNAMBUCO, RECIFE E JABOATÃO
Estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais(Cemaden), em parceria com o IBGE, mostra Pernambuco e vários municípios em um ranking preocupante. O Estado é o quinto do País com mais pessoas vivendo em áreas de risco de desastres naturais. Recife e Jaboatão, as duas maiores cidades pernambucanas, também aparecem como locais vulneráveis.
Jaboatão é o quarto município com a maior população habitando áreas de risco de deslizamento de barreiras e enxurradas do Brasil e o Recife surge, logo em seguida, como a quinta cidade do País.
A pesquisadora da área de Vulnerabilidades do Cemaden, Silvia Saito, explica que as mudanças climáticas, associadas ao adensamento da população urbana aumentou a necessidade de investir em ações estruturantes, como investimentos em infraestrutura, e não estruturantes, como ações preventivas, serviços climáticos e trabalho integrado entre a população e os governos municipal, estadual e federal.
“O Brasil tem uma gestão de risco reativa. Primeiro espera acontecer os eventos para depois agir, quando o caminho é a prevenção. Não há mais espaço para tolerância e subestimação do risco, porque as mudanças climáticas são algo que ainda via acontecer. Eles já estão muito presentes e impõe desafios”, alerta Sílvia. (JC)