
Em uma ofensiva para frear a queda de popularidade, o governo Lula aposta agora no algoritmo. A nova estratégia de comunicação digital, com o uso frequente e direcionado do aplicativo WhatsApp, vem sendo construída para que ministérios enviem mensagens mais diretas à população.
O modelo é inspirado em um “case” de sucesso adotado pela prefeitura do Recife, comandada por João Campos (PSB), aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A abordagem com um toque casual tentará capturar a atenção dos eleitores perdidos de um a dois salários mínimos, que se beneficiam dos programas sociais, mas não se sentem contemplados por iniciativas do governo federal. A intenção é mostrar que as entregas estão sendo feitas pela administração de Lula e também conquistar apoio da classe média e do público jovem.
Com a nova investida, o presidente procura entrar no mundo virtual da oposição, que domina as redes sociais e ganha cada vez mais adeptos no ataque ao governo. No Congresso, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizam o “modo analógico” de Lula, que nem mesmo usa celular.
Agora, os ministérios da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social começaram a enviar mensagens “personalizadas”, por WhatsApp, para beneficiários de seus programas sociais.
“Temos um sistema de comunicação que é uma via de mão dupla”, disse ao Estadão o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias. “Enviamos mensagens institucionais e oferecemos o telefone 121 para dúvidas e encaminhamentos sobre os 48 programas integrados ao Cadastro Único – onde o Bolsa Família é o principal deles – por meio do WhatsApp ou Call Center”, completou.
O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) é uma das bases de dados usada pelo Executivo para o disparo de mensagens em uma operação construída em parceria com a Dataprev e o Serpro.
O governo fez uma consulta à Advocacia-Geral da União (AGU) para saber se a iniciativa esbarraria na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No entendimento da AGU, porém, não há qualquer tipo de impedimento porque a lei permite o tratamento de dados pessoais pelo governo quando a medida é voltada à execução de políticas públicas.
“Além disso, a Lei de Governo Digital (n.º 14.129/2021) e a Estratégia de Governo Digital (decreto n.º 10.198/2024) reforçam o compromisso da administração com a modernização e a digitalização dos serviços, ampliando o uso de canais digitais, com o WhatsApp, para garantir mais eficiência, acessibilidade e inclusão a direitos e serviços públicos”, destacou, em nota, o Ministério da Saúde.
Comandada por Alexandre Padilha, a pasta da Saúde já está enviando mensagens de WhatsApp para usuários do programa Farmácia Popular. O ministério identificou cerca de 2 milhões de pessoas com diagnóstico de hipertensão que não retiraram os medicamentos gratuitos, nos últimos três meses, e mandou alertas para esses usuários.

A base de dados empregada na ação piloto foi a do DataSUS. Padilha disse que o objetivo da iniciativa é ampliar o acesso da população a políticas públicas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). O programa Agora tem Especialistas, que chegou a mudar de nome para ter mais apelo publicitário – e foi relançado no último dia 30 –, também contará com informações encaminhadas por WhatsApp.
“A iniciativa é ótima, mas é preciso ter o consentimento do cidadão e também um controlador a quem a pessoa possa recorrer, caso não queira mais fazer parte dessa base de dados”, observou Luciana Moherdaui, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP. “A lei exige esses cuidados até porque o investimento em microtarget pode mudar uma eleição”.