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O tipo de papa que faz bem à Igreja Católica

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Foto: reprodução

Por J.R. Guzzo*

Havia dois tipos de papa, e só dois, que os especialistas esperavam que saísse do conclave de cardeais reunidos em Roma para eleger o sucessor de Francisco I. Dentro da mendicância mental que governa hoje a maior parte do pensamento humano, o novo papa ou será uma maravilha ou um troglodita empenhado em devolver a Igreja Católica à baixa Idade Média.

Um possível modelo dois-em-um, quer dizer, algo entre os dois extremos, não estava sendo considerado – imagina-se que iria pender para um lado ou para outro como o papa Francisco, que acabou virando, vejam só, um admirador de Lula, dos “palestinos” e da Nicarágua.

Muitos dos comandantes da hierarquia católica, e um número ainda maior de subordinados, são francamente a favor do suicídio – continuam empolgados com a ideia de que a Igreja deve abandonar suas preocupações com a religião, e liderar a hoste global do socialismo

Naturalmente, no mundo das coisas, há considerações que não combinam com o que se diz no mundo das ideias. Uma delas levanta a possibilidade que os cardeais, não tendo lido as análises que explicam o que há por dentro das suas cabeças, acabassem escolhendo o novo papa com base no puro e simples pragmatismo – ou o que presumem ser o caminho mais racional para a Igreja. No fim, o eleito foi o cardeal Robert Prevost, de Chicago, com o título de Leão XIV – o primeiro americano entre os 267 papas que reinaram desde São Pedro.

Muitos dos comandantes da hierarquia católica, e um número ainda maior de subordinados, são francamente a favor do suicídio – continuam empolgados com a ideia de que a Igreja deve abandonar suas preocupações com a religião, e liderar a hoste global do socialismo-igualdade-inclusão-mudança do clima-linguagem neutra e o resto que você sabe. Mas era possível que o instinto de sobrevivência que levou a Igreja Católica a sobreviver por 2000 anos voltasse a se manifestar e o conclave acabasse se inclinando para a solução mais lógica. O cardeal Prevost, no futuro mais próximo, deve dizer a que veio.

O que seria a solução mais racional nas atuais circunstâncias? Seria optar por uma mudança de rumos capaz de levar a Igreja a agir na defesa objetiva dos próprios interesses – que são, no fundo, os interesses da fé católica. Teria, para isso, de voltar a falar em religião para os seus fiéis; teria, de novo, de ser o centro da sua vida espiritual.

Ou faz isso, e recupera a sua força moral, ou perderá cada vez mais a sua relevância. Continuará sendo engolida pelos cultos evangélicos, como ocorre hoje no Brasil. Ou pelo islamismo, como ocorre no resto do mundo. Ou, ainda, pela indiferença das pessoas diante de considerações religiosas.

A Igreja Católica, há cerca de 50 anos, decidiu tornar-se cada vez mais uma organização política – e há 50 anos vem perdendo terreno perante as outras profissões de fé. O desastre, aí, foi esquecer que o catolicismo é algo que as pessoas procuram para responder às demandas da alma, e não para obter instruções de conduta política. O cidadão não vai à missa para que o padre lhe diga em quem deve votar, ou lhe exiba uma bandeira da Palestina.

Não quer receber aulas sobre o que tem de achar sobre os índios ianomâmis ou o uso de “agrotóxicos”. Não está interessado no que o vigário acha de Lula, das “mudanças do clima” ou da “reforma agrária.” Quer tratar do seu espírito, do seu senso moral e dos seus valores cristãos.

Um papa que vai faz bem à Igreja é o papa que conduz o catolicismo de volta à sua essência – fé religiosa, valores éticos, comportamento como ser humano. A preocupação central não tem de ser a necessidade constante de “mudança”. Por acaso os muçulmanos querem mudar alguma coisa? A Igreja Católica, ao contrário do que acham os “progressistas”, não tem problemas por ser “conservadora”; suas carências de hoje não têm nada a ver com o que os padres dizem ou deixam de dizer sobre a direita ou a taxa de juros. Seus problemas, todos eles, vêm do fato de que o catolicismo vem se transformando, cada vez mais, em algo inútil para vida do espírito.

*J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968.

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