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Lula atrás nas pesquisas para um futuro condenado por golpe é humilhação

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Foto: reprodução

Por Fabiano Lana / Estadão

Expectativa: Consagrado internamente, o presidente Lula chega ao encontro do G7 esta semana no Canadá como um grande jogador capaz de influenciar os rumos do atual conflito no Oriente Médio entre Israel e Irã. Realidade: Com baixa popularidade, o presidente fará mais uma viagem internacional como um líder café-com-leite, sem grande importância estratégica para os demais, acuado por um Congresso que não quer aprovar seu pacote fiscal, e ameaçado nas pesquisas por qualquer um que seu maior adversário político – um notório golpista, prestes a ser preso – queira apoiar.

Uma teoria é que Lula não ganhou em 2022, mas Bolsonaro perdeu para si mesmo. Agora podemos inverter. Se a tendência continuar, qualquer político – mesmo pouco conhecido – que apareça nas cartelas de pesquisa, pode vencer o atual presidente. Isso deve ser bastante constrangedor para os ocupantes do Palácio do Planalto. E nem dizer que não se acredita mais em pesquisas tem sido possível – pois esse tipo de comportamento avestruz ficou ligado ao bolsonarismo.

Essa situação de fato humilhante ainda possui um tempero que intriga: os índices da economia brasileira não estão de mal a pior, ao contrário. A taxa de desemprego está entre as melhores da história. A renda das famílias encontra-se em elevação. A inflação deu um suspiro. O PIB cresceu mais de 3%. O déficit público segue a ameaçar todas as conquistas citadas, mas não é algo que a população sinta neste momento.

Nesta conjuntura, querem apontar o dedo em direção ao culpado para o principal suspeito de sempre: a comunicação. O ministro responsável pela área, Sidônio Palmeira, poderia alegar que algumas intercorrências, como a crise do INSS ou o problema da taxação do Pix, interromperam uma recuperação virtuosa. Que o governo é vítima das fake news, dos algoritmos manipulados das grandes empresas de tecnologia.

Daí que a resposta para o baixo apoio é tão simples? Ou seja, o brasileiro, que se beneficia da melhora dos índices, não consegue aprovar o governo devido à enxurrada de mentiras que recebe no celular? Será que, como povo, somos tão manipuláveis? A depender de certas pessoa que apoiam o petismo, sim. Um Congresso autônomo, com forte controle sob suas emendas e com ideologia diversa da praticada pelo governo, é de fato um agravante. Mesmo assim não é possível apostar em análises ingênuas e superficiais.

Não seria melhor imaginar que, de alguma maneira, Lula e o petismo estão se tornando um produto político anacrônico, pouco aderente às demandas da sociedade atual? Que o discurso de um Estado forte a auxiliar diretamente um gigantesco contingente que não consegue arrumar emprego ficou de alguma maneira anacrônico? É possível que, pouco a pouco, o brasileiro tenha se tornado mais liberal no sentido de que o que vale precisa ser conquistado como fruto de seu próprio trabalho, e não de eventuais bolsas e auxílios? Valeria a pena estudar a hipótese antes de culpar big techs, a “extrema-direita” ou o setor financeiro pela má-fase.

Do ponto de vista da imagem, é evidente que o “produto” Lula cansou. Os longos discursos nos quais o presidente anda de um lado para outro, em geral, se elogiando, se dizendo predestinado, atacando os adversários, parece que cansou. Disso só vai sobrar um corte feito por algum não simpatizante com alguma sequência de frases comprometedoras. Esse vídeo que prejudica Lula irá rodar nos grupos de WhatsApp com uma repercussão que vai deixar a comunicação oficial comendo poeira.

Um efeito das redes sociais foi o fim de certa hegemonia discursiva da esquerda no Brasil. Antes, o apoio do PT nas universidades, entre os intelectuais, entre os artistas de elite, eram bastante decisivos. Hoje, esse pessoal pode ser eclipsado por um “reaça”, antes anônimo das redes, com mais seguidores do que todos somados a reagir com agressividade contra qualquer ação do petismo. Controlar as redes não vai solucionar a questão.

Lula pode se recuperar? Sim. Já saiu de situações muito mais difíceis na vida. Mas a diferença é que a cada dia ele próprio e seu grupo político parecem se encontrar desadaptados com os valores da sociedade. Não serão apenas mudanças cosméticas que farão o jogo virar.

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