
Por Geraldo Eugênio*
A terra é dividida de Norte a Sul em linhas imaginárias denominadas paralelos. O mais conhecido de todos é o Equador, que separa o planeta nas regiões Setentrional e Meridional. Dentre os demais, destacam-se o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, a um ângulo de 23°27’, vinte e três graus e vinte e sete minutos, ao Norte e Sul, e o Círculo Polar Ártico e o Círculo Polar Antártico, a um ângulo de 66°33’, sessenta e seis graus e trinta e três minutos ao Norte ou ao Sul, respectivamente.
À medida que o local se distancia do Equador, o clima e as quatro estações são mais distintas. Para quem se encontra nas proximidades dos Trópicos e dos Círculos Polares, conhece bem o que representa cada uma das quatro estações: já as localidades que se aproximam da linha equatorial sofrem menor influência da inclinação da terra em relação ao sol, sendo igualmente expostas a temperaturas mais elevadas durante todo o ano.
Estação chuvosa e seca.
No que se refere ao Sertão de Pernambuco, cujo paralelo se encontra ao redor de 8º, não dá para se distinguir o verão, o outono, o inverno e a primavera, sendo comum tratar de dois períodos durante o ano, a estação chuvosa, erroneamente denominada inverno, e a estação seca que congrega o outono, o inverno e a primavera.
É sabido que, à exceção das áreas mais altas, os brejos de altitude, a temperatura anual varia entre 20º e 32º C. Já quanto às precipitações, o valor médio anual é de 550 mm, que ocorrem em um período de três a quatro meses. A questão principal das chuvas na região em referência é saber até que ponto se consegue contar com uma agricultura viável em áreas não dependentes de irrigação.
Em se tratando do município de Serra Talhada, 80% das chuvas, em uma média histórica superior a cinquenta anos, ocorrem entre os meses de janeiro e março. Nas últimas duas décadas, tem-se observado uma redução do volume das precipitações pluviais na última década, mas ainda mais marcante tem sido a ocorrência dessas. Não se conta com um padrão e todos os anos são diferentes um do outro. A relação de três meses mais úmidos para nove meses secos continua como tal, mas não dá mais para se prever em que período a chuva chega com maior intensidade e homogeneidade.
Alterações visíveis e constantes.
A estação chuvosa do ano de 2025 tem sido algo esclarecedor. As primeiras chuvas chegaram atrasadas, no mês de janeiro, e a partir daí a região se defrontou com veranicos constantes, sacrificando os cultivos de milho realizados nos meses de janeiro, fevereiro e a primeira quinzena de março. Chuvas regulares voltaram a partir do final do mês de abril, mantendo uma consistência em maio e, pasmem, em junho o Sertão encontra-se molhado até o São João, a última semana do mês.
Grande parte dos plantios realizados nos primeiros três meses foi literalmente perdida e somente os insistentes e com uma dose de fé maior do que normal se aventuraram a plantar milho a partir do final da última semana de março. Aqui vai um dado interessante: no Campo Experimental da UFRP-UAST, está sendo conduzido um experimento em que se testam diferentes híbridos de milho em épocas diferentes. Neste ensaio, a primeira semeadura se deu em 28 de janeiro e a última, quinta, em 24 de março. Por incrível que possa parecer, somente na última se conseguirá mensurar a produção de grãos. Trocando em miúdos. Em se tratando de uma propriedade, o agricultor teria que haver apostado cinco vezes para acertar uma única vez.
A situação não é mais crítica devido ao fato de que a principal atividade econômica do semiárido dependente de chuvas é a pecuária. Desta feita, há que se agregar o valor do grão, da palha de milho e do capim, de forma que se possa ter uma ideia clara de quão viável é este sistema de produção. Esta prática remete a uma das tecnologias mais bem consolidadas na agricultura brasileira e mundial nas últimas décadas, a integração lavoura-pecuária. O semiárido jamais será um cerrado, logo o imóvel rural, à exceção das áreas irrigadas, não pode apostar em um único produto de valor comercial. Poder contar com o grão, a silagem ou o feno, a palma forrageira, o bezerro, o garrote, a novilha, o borrego, a cabra, a vaca, o leite e o animal adulto é essencial para se manter uma fazenda minimamente viável.
Como se contar com previsões fiáveis?
Duas instituições federais são responsáveis pela coleta, tratamento e análise de dados climáticos. O Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, ligado ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Pesca, e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC-INPE. Apesar de expressarem funções distintas, devem trabalhar ainda mais conectadas e de modo colaborativo com os institutos estaduais, a exemplo da FUNCEME, no Ceará, a APAC, em Pernambuco, e dezenas de universidades e institutos estaduais de pesquisa que contam com departamentos modernos e jovens profissionais debruçados sobre o tema. Um dos objetivos dessa sinergia seria ver todas as estações meteorológicas tradicionais e as automáticas, PCDs, em pleno funcionamento, garantindo assim uma maior chance de se contar com previsões mais confiáveis e corretas.
A conclusão que se chega é que as mudanças climáticas em curso exigirão de todas as nações investimentos mais bem dirigidos em monitoramento e previsão do clima em um cenário em que a imprevisibilidade se tornou lugar comum. Trata-se de um desafio multidisciplinar e avançar em sua resolução fará a diferença, considerando que o custo/benefício justifica o investimento que possa ser feito.
*Professor titular da UFRPE-UAST