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A ficha caiu: “É hora de apertar os cintos”, diz presidente da Petrobras

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Foto: reprodução

Por Estadão

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, foi direta ao informar que poderá rever os investimentos da companhia, calculados em US$ 111 bilhões (em torno de R$ 622 bilhões, ao câmbio atual) em cinco anos, diante do cenário adverso de petróleo em baixa e dólar em alta. “É hora de apertar os cintos”, resumiu a executiva a um grupo de analistas do mercado financeiro reunidos na conferência de apresentação dos resultados trimestrais. Foi um sinal de austeridade que claramente desafia a agenda eleitoreira do presidente Lula da Silva.

Sob o quinto mandato petista, o plano de investimentos quinquenais da petroleira voltou ao patamar da centena de bilhões de dólares, o que não ocorria desde a programação de 2015-2019, elaborada no governo Dilma Rousseff, que previa US$ 130,3 bilhões. Uma cifra astronômica, mas 40% inferior à do plano precedente (2014-2018), que, com US$ 220,6 bilhões, dava a dimensão da estratégia traçada para a Petrobras nos governos do PT.

Na recente conferência com o mercado financeiro, Magda Chambriard procurou adotar um tom de cautela e realismo que parecia destinado a afastar fantasmas passados. Preocupada com o preço do barril do petróleo, que em menos de um ano caiu de US$ 85 para cerca de US$ 65 (o tipo Brent, usado como referência pela companhia), a presidente da Petrobras acenou com a possibilidade de reduzir projetos da companhia, inclusive afirmando que, a partir de agora, palavras como “austeridade” e “simplificação” estarão incorporadas ao seu discurso.

É um prudente recuo em relação ao deslumbramento exibido pela sra. Chambriard na semana anterior, quando encerrou seu discurso na Conferência de Tecnologia Offshore (OTC, na sigla em inglês), em Houston (EUA), com um sonoro “let’s drill, baby!” (vamos perfurar, bebê!). Na ocasião, a executiva falava sobre a intenção de produzir petróleo na Margem Equatorial, mas o recurso a uma frase repetida pelo presidente norte-americano, Donald Trump, para defender a exploração de petróleo na área foi bastante inoportuno.

Este jornal considera legítima a campanha para perfuração no bloco de petróleo adquirido em 2013 – com o aval prévio do Ibama –, mas até para a empolgação há limites e a referência ao slogan trumpista foi a pior forma encontrada por Chambriard para expressar seu entusiasmo. Mesmo que impensado, o alinhamento ao presidente dos Estados Unidos, que não perde oportunidade de demonstrar seu menosprezo pela proteção do meio ambiente, prejudica e desqualifica o debate e a reputação da Petrobras.

Já o reconhecimento de que a manutenção de projetos com custos altíssimos em meio à instabilidade econômica mundial pode ser revista parece um retorno ao bom senso. Como qualquer relação de causa e efeito, o nível gigantesco de investimentos em gestões lulopetistas multiplicou a dívida da Petrobras, que em 2013 e 2014 virou a companhia de petróleo mais endividada do mundo e em 2015 registrou mais de R$ 500 bilhões de dívida bruta para um caixa em torno de RS$ 100 bilhões. Era o retrato da inconsequência nefasta que o mau planejamento pode acarretar. Qualquer semelhança com a política de “gasto é vida”, que marca os governos do PT, não é mera coincidência.

Embora a executiva não tenha feito menção a políticas de governo que interferem nos projetos da empresa, é evidente o interesse do Palácio do Planalto em investimentos dos quais a Petrobras já havia se afastado, seja por não fazerem parte de seu escopo, seja em razão do baixo retorno, como são os casos, por exemplo, da produção de fertilizantes e da retomada de projetos nas áreas de refino e petroquímica.

Questionada se a austeridade defendida por ela não poderia comprometer a agenda de Lula da Silva, a sra. Chambriard desconversou, dizendo que a Petrobras está fazendo o mesmo que outras grandes petroleiras. O problema é que, por aqui, a mão do governo sempre pesa sobre a Petrobras, e é preciso saber se a presidente da empresa realmente conta com o aval do presidente da República para colocar seus planos em prática.

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