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Horror pernambucano

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Manoel Cavalcanti, 44, pai de Leandro Cavalcanti, 18, morto no bairro de Várzea, na periferia do Recife

Folha de S.Paulo – EDITORIAL

O corpo no meio da rua divide espaço com carros e pedestres. Não há faixa ou qualquer instrumento para isolar o jovem de 19 anos morto a tiros na periferia de Recife.

Enquanto policiais conversam na calçada, uma moto cambaleante se aproxima lentamente e atropela o cadáver. A roda dianteira para em cima do pescoço. O motociclista estava embriagado.

Pavorosa tanto pela morte brutal quanto pela indiferença com que foi tratada, a cena registrada pela Folha não pode mais ser tida como um episódio isolado em Pernambuco —onde, com detalhes mais ou menos horripilantes, casos de assassinato têm se multiplicado.

Nos três primeiros meses deste ano, foram registrados 1.522 homicídios —em relação ao ano passado, houve aumento de 44%.

Em 2016, Pernambuco contabilizou 4.480 assassinatos, 48 casos por 100 mil habitantes. Eram 28 em 2014; a média nacional é de 26.

A onda de crimes fez Pernambuco regredir uma década nas estatísticas de segurança e arruinou o legado de um projeto tido como referência no combate à violência.

Em 2007, o então governador Eduardo Campos (PSB) implantou o programa Pacto pela Vida, com vistas a livrar o Estado do nada honroso título de terceiro mais violento do país. Buscou-se, na ocasião, aprimorar os métodos investigativos e ofertar bônus por rendimento aos policiais.

Nos anos seguintes, os resultados foram animadores. Dos 4.590 assassinatos anuais no início do programa, passou-se a 3.100 em 2013. Parte significativa do êxito parece estar associada ao empenho do próprio governador, que coordenava pessoalmente reuniões sobre o programa.

Coincidência ou não, as limitações do Pacto se fizeram mais evidentes após a morte de Campos, em 2014. A integração entre as polícias nunca foi de fato cumprida; o sistema prisional permanece precário.

O incremento dos assassinatos foi a face mais aterradora, mas não a única, desse retrocesso. Acossada por uma série de roubos e ataques, uma escola pública em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife, foi fechada.

O caso pernambucano é mais um exemplo do recrudescimento da violência no Nordeste desde a década passada, a despeito do crescimento econômico da região. Nos últimos dias, por sinal, viram-se no Ceará quase 30 ônibus serem incendiados, em ação atribuída a uma facção criminosa.

Ilustra-se, assim, uma dificuldade crônica do poder público nacional —a de converter iniciativas meritórias em políticas duradouras.

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