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Flávio Bolsonaro fala de sua conta e deixa a de Queiroz para o ex-assessor

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Enquanto as investigações não avançam, e o ex-assessor não convence ninguém, a espada continua sob a cabeça de Flávio Bolsonaro
  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan

Flávio Bolsonaro disse à TV Record e à Rede TV! no domingo que o dinheiro dos depósitos fracionados feitos entre junho e julho de 2017 em sua conta era proveniente da venda de um apartamento no Rio de Janeiro e também dos lucros de sua franquia carioca da Kopenhagen, loja que vende chocolates, com a qual, segundo o senador eleito, ele ganhava muito mais do que como deputado estadual.

Na sexta-feira, o Jornal Nacional havia revelado que o Coaf identificou a entrada de 96 mil reais na conta de Flávio, divididos em 48 depósitos de 2 mil reais, todos eles feitos em espécie no caixa eletrônico da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). O senador eleito reiterou o que a reportagem já havia apontado: que 2 mil reais é o limite permitido nos caixas eletrônicos da Alerj para depósitos em envelope com dinheiro; e ainda alegou que recorria a eles, como qualquer outro deputado ou funcionário, pela facilidade de acesso em seu local de trabalho.

Flávio afirmou também que o título de pouco mais de 1 milhão de reais pago à Caixa Econômica Federal deve-se ao financiamento deste mesmo imóvel, que ele havia comprado, e mostrou papéis referentes às transações, prometendo exibi-los em detalhes às autoridades competentes, quando o STF decidir quais são elas.

Até a Folha, porém, já reconheceu que uma permuta de imóveis entre Flávio e sua mulher e outro casal, registrada em cartório em agosto de 2017, confirma que o senador eleito havia quitado em junho uma alienação fiduciária com a Caixa, referente a um imóvel na zona sul do Rio, no valor de cerca de 1 milhão e 24 mil reais.

“A escritura da permuta mostra que o casal concordou em pagar R$ 600 mil ao filho do presidente, sendo R$ 50 mil em cheque e R$ 550 mil sem descrição da forma de pagamento, com princípio de quitação em março de 2017.”

Ou seja: a escritura também confirma que Flávio pode ter recebido uma parte significativa do pagamento em espécie, como ele declarou na TV ao defender a legalidade da origem do dinheiro que disse ter depositado na própria conta.

Documentos podem dar mais credibilidade às alegações do senador eleito, antes evasivo, mas não são apenas esses depósitos e o título que pesam contra ele. Há também a suspeita de ter participado de um esquema que teria concentrado recursos na conta de seu ex-assessor Fabrício Queiroz e o desgaste político com o pedido feito ao STF que resultou na suspensão das investigações relativas a Flávio determinada pelo ministro Luiz Fux até a palavra do relator Marco Aurélio Mello na volta do recesso judiciário.

Sobre o pedido, Flávio reiterou o que já havia dito à Record na sexta-feira: que não pediu foro privilegiado no Supremo, que apenas fez um questionamento para que o STF decida qual é o foro competente no qual ele deve prestar os esclarecimentos e que informou à Corte sobre o que chamou de atrocidades, acusando a quebra de seu sigilo bancário sem autorização judicial, o vazamento ilegal das informações correspondentes para atingir o filho do presidente e o MP de ter mentido sobre sua condição que ele descobriu ser a de investigado. Elementos que, segundo ele, fizeram sua defesa orientá-lo a não depor antes da decisão solicitada ao Supremo.

Caberá a Marco Aurélio avaliar o caso específico, mas, por um lado, os dados solicitados pelo MP e entregues pelo Coaf sobre movimentações atípicas não necessariamente configuram quebra de sigilo. Por outro, os órgãos públicos destinatários dos relatórios do Coaf devem preservar seu sigilo, como ocorrem com as informações fiscais enviadas pela Receita Federal.

Não é porque a imprensa pode publicar informações sigilosas que apura que vazamentos não devem ser investigados e os servidores responsáveis punidos. Mas, obviamente, não é porque há vazamentos que a investigação tem de ser jogada no lixo.

Flávio sabe que ela vai continuar, seja onde for, de modo que, além de cobrar atenção equivalente a outros deputados como André Ceciliano, do PT, cujos assessores movimentaram dezenas de milhões de reais a mais que Queiroz, negou que seus funcionários na Alerj devolvessem parte do salário em esquema conhecido como caixinha parlamentar ou rachid; disse que teria denunciado e mandado prender os envolvidos se soubesse disso; afirmou que não está na vida pública por dinheiro; alegou que, em certos períodos, vários cargos de seu gabinete ficaram até vagos, o que não aconteceria se quisesse acumular recursos dessa forma; mas que não tem como saber o que funcionários fazem da porta do gabinete para fora.

O senador eleito relatou ainda que não falou mais com Queiroz para não despertar suspeita de que estivessem combinando versões, mas que a explicação que ouviu do ex-assessor após a divulgação do primeiro relatório do Coaf e que havia dito à imprensa ter considerado “plausível” foi que parte dos 600 mil reais que entraram na conta de Queiroz foi da esposa e das filhas dele empregadas no gabinete, porque ele tomava conta do dinheiro da família, e que, em relação aos depósitos de outros assessores, cada caso era um caso, mas que seriam fáceis de explicar. Flávio não explicou essa parte. Ele já havia dito que não tem culpa de Queiroz estar com câncer e “que quanto mais ele demora, mais me prejudica, porque continua essa espada sob a minha cabeça, como se eu tivesse alguma responsabilidade por ato de terceiros, que eu não tenho”.

Enquanto as investigações não avançam, e o ex-assessor não convence ninguém, a espada continua mesmo lá.

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