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Araripina de muitos donos

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Esse lugar chamava-se São Gonçalo do Sauhén. Era aos olhos dos grandes homens da época um lugar próspero, pois, havia plantio de mandioca, além do criatório de gado.

Por Vavá Dias via Coluna do Paixão / Foto: reprodução

Era uma vez, um lugar, situado a oeste de Pernambuco, divisando-se com Piauí e Ceará, localizado no Sopé da Serra do Araripe. Esse lugar chamava-se São Gonçalo do Sauhén. Era aos olhos dos grandes homens da época um lugar próspero, pois, havia plantio de mandioca, e no Sítio Jardim já se colhia milho e feijão em abundância, além do criatório de gado.

Certo dia, ali pelos idos dos anos trinta, homens visionários “aqueles que estão sempre pensando séculos à frente do seu tempo” e com muita luta, muitas idas e vindas á capital Recife, “diga-se de passagem ir a Recife naquela época levava quinze dias para ir e ao mesmo tempo voltar, conseguiram a emancipação de São Gonçalo do Sahuén.

Ao amanhecer de onze de setembro nascia Araripina, precisavam de um gestor alguém com a cara da cidade, a coragem de um desbravador e a vontade de um servidor, tal qual aquele que disse: fazei o bem sem olhar a quem. O escolhido foi o coronel Pedro Cícero.

Araripina está livre de Ouricuri, agora somos também cidade, vamos guiar nossos próprios passos, vamos crescer, vamos fazer das veredas, caminhos para um futuro próspero, seremos grandes.

Tudo caminhava, conforme os homens visionários haviam sonhado. Eles só não contavam com a eleição do novo presidente da República, essa veio para tirar o sono daqueles cidadãos que até então planejavam como dizia meu pai, Sr. Hermes Miguel de Souza (Ramalho), uma administração de vergonha na cara.

O que ninguém sabia, é o que novo presidente da República, o coronel Getúlio Vargas, ao assumir a presidência, decretou uma lei: para ser prefeito, o cidadão tinha que ser doutor. Doutor na sua concepção era o sujeito com diploma universitário, ou seja, alguém com um diploma, não importando qual, porém, só podia administrar uma cidade com o título de doutor. Para não ser antipático ao decreto do Sr. Presidente, vou citar um exemplo: o único doutor encontrado em Juazeiro do Norte, foi o Padre Cícero Romão. Tornou-se prefeito.

Voltando à nossa cidade, foi uma loucura, o prazo era muito pequeno, como já falei anteriormente para ir ao Recife levava muito tempo, não havia como. Toda luta estava perdida…ou parecia perdida.

De repente, apareceu um chapeado (chapeado na época, era um homem que usava chapéu com uma placa que nominava a pessoa). Esse chapeado falou sobre um cidadão, que ajudara a descarregar, duas malas de couro em um jumento, que pelos apetrechos que vira, podia imaginar tratar-se de um doutor.

Araripina que parecia perdida renasceria em instantes. Todos foram ao encontro do tal homem e lá chegando veios as indagações: – de onde o senhor vem? Ele respondeu: – da Paraíba. – O Sr. é doutor? – Sou dentista. – Então o Sr. é doutor. E esse senhor tomou posse, governou Araripina, sem saber qualquer coisa sobre São Gonçalo do Sahuén. Esse senhor chamava-se: Ademar Feitosa. Segundo meu pai, Hermes Miguel de Souza, a única coisa que ele se preocupava, era os fiscais para cobrar impostos sobre as bancas de feira… e já não andava mais de jumento, já tinha o seu cavalo Alazão.

Algum tempo depois, os visionários da época foram buscar na Bahia, um cidadão que atendia pelo nome de, José de Araújo Lima, médico, parteiro, homem de grande índole, que governou nossa cidade com mão de ferro, fez muito, muito mais do que todos esperavam, foi o prefeito austero (austeridade é tudo que eu sonho e espero de um gestor). Não há qualquer notícia sobre sua falta de conduta tampouco de enriquecimento ilícito, sobre sua pessoa, doutor Araújo, foi um marco na nossa história. Que Deus tenha providenciado uma cadeira confortável para o Doutor Araújo lá no céu.

Volto ao título da matéria, pois, é muito importante ressalvar que: Família Arraes veio do Araripe; Família Bringel (Santiago Bringel) veio do Araripe; Família Jacob da qual faço parte, veio da Paraíba; Família Dias da qual me orgulho de pertencer – meu avô Miguel Dias de Souza, foi o segundo professor de Araripina, veio da Paraíba. Meu bisavô, João Jacob de Souza, foi delegado, inspetor de quarteirão em Araripina, também veio da Paraíba. Por isso, o título, ‘Araripina, terra de muitos donos’.

Eu, Vavá Dias, digo sempre que posso, graças a Deus, nasci em Presidente Venceslau, São Paulo. Sabem porque digo ‘graças a Deus’? Eu nasci com uma doença incurável chamada crupe, se eu estivesse nascido aqui, hoje eu não seria nem lembrado pelos meus irmãos. Seriam 64 anos de um funeral esquecido.

Outro dia minha filha Maria Clara Dias, que tenta o vestibular para medicina, me ligou, perguntando sobre a tal doença. Ela estava em sala de aula, o médico que lá estava disse: diga a seu pai que essa doença ainda não está erradicada, ainda houve mais de quinhentos casos em 2016 no país. Só que agora existem técnicas para combatê-la.

Para falar sobre o meu bisavô, sobre Sebastião Batista Modesto, sobre o meu pai, Hermes Miguel de Souza, preciso parar de chorar e de lembrar-se da última administração que tivemos …eita sertão sofredor!

Sobre, Ademar Feitosa há alguns anos recebi uma senhora em meu estabelecimento, me pedindo para que escrever um livro sobre Araripina. Essa senhora da família do finado José Arnaud Campos, falou-me sobre uma pessoa que ela encontrara em Goiânia, com o mesmo nome e proveniente de Araripina, só que, jamais tocou no assunto de prefeitura, assim como também no de odontologia.

Se alguém descobrir alguma informação aqui que não corresponda com a verdade, estou aberto a qualquer sugestão. Tudo que contei aqui eu não li e sim ouvi durante toda minha vida dos meus parentes velhos.

Abraços,

Vavá Dias

Poeta, escritor, compositor e empresário

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